A Fita Branca (2009): inocência e maldade de mãos dadas - Dicas de Filmes Pela Scheila

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segunda-feira, fevereiro 13, 2023

A Fita Branca (2009): inocência e maldade de mãos dadas

A Fita Branca é um drama amargo escrito e dirigido por Michael Haneke. Por meio de silêncios visualizamos o declínio moral daqueles considerados a esperança de um mundo melhor. Difícil voltar desta obra sendo a mesma pessoa de antes.

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Christian Friedel e Leonie Benesch em cena no filme "A Fita Branca"

Sinopse - A história se passa em 1913, num vilarejo protestante ao norte da Alemanha, às vésperas da Primeira Guerra Mundial e é narrado pelo professor (Christian Friedel), que nos informa sobre uma sequência de acontecimentos estranhos que começaram logo após o médico (Rainer Bock) local sofrer um grave acidente enquanto cavalgava, seu cavalo tropeçou em um arame alçado entre duas árvores.

Passado alguns dias, a esposa de um agricultor local perde a vida após sofrer um grave acidente de trabalho quando o piso de madeira de uma serralheria cede. Logo surgem especulações no vilarejo acerca dos acontecimentos, que ambos teriam sido criminosos. No entanto, os dias passam e as pessoas voltam às suas rotinas diárias, esquecendo dos acidentes.

Depois de algum tempo, durante a festa promovida por um Barão (Ulrich Tukur), seu filho desaparece. Um grupo de busca encontra o garoto no meio de uma floresta durante a noite, ele foi torturado. Isso reacende o medo nos moradores.

Os dias se seguem e coisas estranhas continuam acontecendo. A apreensão e a desconfiança se espalham por toda o vilarejo, a aparente tranquilidade da lugar ao temor generalizado. As pessoas ficam temerosas, afinal o culpado pelos crimes pode ser qualquer um e estar mais perto do que se imagina.

Um retrato horripilante da maldade coletiva 

Para Michael Haneke, "as raízes do mal estão no próprio homem, em todos eles, sem escapatória: provém de sua fraqueza e da facilidade com a qual são corrompido". Concordo com o pensamento do cineasta, acredito que cada ser humano possui dentro de si o bem e o mal convivendo lado a lado, e vai ganhar forças aquele que for melhor alimentado. No filme vemos claramente como foram "alimentados" as crianças que viriam a ser os futuros colaboradores do nazismo.

A Fita Branca é acima de tudo, um filme filosófico, que adentra nas profundezas do ser humano, revelando seu lado mais obscuro. Também é uma viagem no tempo, voltamos para 1913, dias antes do início da Primeira Guerra Mundial e nos deparamos com uma sociedade patriarcal, sustentada por um rígido código moral e por rigorosos princípios religiosos. Os mais atingidos por esse sistema opressor foram as crianças, que no futuro seriam os adultos que vivenciariam a ascensão do Führer ao poder e a implantação de seu regime. Não é difícil entender de onde surgiu toda aquela frieza colocada em prática nos campos de concentração nazista.

A rigidez moral se converte em violência e se agrava ainda mais quando é embasada e justificada através de princípios religiosos. No decorrer da trama, vamos acompanhando o desenrolar dos fatos, visualizamos a maldade se espalhar silenciosamente, não somente naquele vilarejo, mas em toda a Alemanha. 

Sentimentos como inveja, cobiça, ódio, indiferença, orgulho e prepotência dominavam a mente daquelas crianças vindas de famílias "perfeitas". Infelizmente, tudo que presenciamos no filme vem ocorrendo nos dias atuais, famílias desestruturadas sustentando uma falsa aparência de perfeição, onde a falta de diálogo entre pais e filhos cria uma sociedade distorcida de valores morais.

A Fita Branca induz o espectador a refletir sobre o certo e errado, mas não agrada todos os públicos, é complexo e exige reflexão contínua, a narrativa se passa um pouco distante daquilo que é observado. 

Ficha técnica

Título original: Das Weiße Band
Duração: 144 minutos
Gênero: Drama, Mistério
Classificação indicativa: 16 anos
País de origem: Alemanha, Áustria, França, Itália, Canadá
Ano de lançamento: 2009