quinta-feira, agosto 01, 2019
Filme: Desencanto (1945)
"Brief Encounter" é um pequeno (86 minutos de duração) grande (maior romance dramático de todos os tempos) filme do diretor David Lean. Conhecido pelos famosos épicos, o cineasta enfrentou enormes dificuldades para filmar na Inglaterra, pois naquele período a Europa toda estava no auge da Segunda Guerra Mundial, mesmo assim ele conseguiu concluir uma obra-prima sobre as amarguras do amor proibido. São raros os filmes que abordam o tema com tamanha sensibilidade.
Lançado em 1945, este filme britânico ganhou o Grand Prix no Festival de Cannes e concorreu o Oscar nas categorias de Melhor Direção, Melhor Roteiro e Melhor Atriz. O roteiro foi escrito por Noël Coward, e baseia-se na sua peça de teatro de 1936, chamada Still Life.
A história se passa na Inglaterra, em 1938. Laura Jesson (Celia Johnson) é uma mulher casada, com dois filhos que, costuma ir à cidade uma vez por semana para fazer compras e aproveita para ir ao cinema. Certo dia, enquanto aguardava seu trem no Salão de Chá da Estação de Milford Junction, ela conhece o Dr. Alec Harvey (Trevor Howard), também casado e com dois filhos.
Na semana seguinte, eles se reencontram casualmente. Os dois têm uma longa e agradável conversa. Na terceira semana, Laura está ansiosa para encontrar seu novo amigo, mas o encontro não acontece. Na quarta semana, eles almoçam juntos. Depois do almoço, os dois vão ao Palladium assistir um filme. Já na estação, eles traçam um plano de se encontrarem toda quinta-feira.
Durante a volta para casa, Laura sente arrependimento por estar conversando com um homem estranho e promete a si mesma que não voltará a se encontrar com Alec. Ao chegar em casa e encontrar seu filho ferido devido um atropelamento, ela se sente ainda mais culpada e confessa ao marido que foi ao cinema com um estranho. No entanto, Fred (Cyril Raymond) não dá a mínima para as palavras de sua esposa.
Chega novamente a quinta-feira, e, Laura vai ao encontro com Alec, pois havia assumido o compromisso na semana anterior. Mas, ele não comparece. Porém, o encontro se dá na estação e ambos percebem que se apaixonaram. Na semana seguinte eles vão ao cinema. E durante um passeio no parque, o inevitável acontece. Um beijo sela essa paixão proibida. Mas, quando se trata de um amor clandestino, o destino é traiçoeiro...
O que me encantou neste filme foi o desenvolvimento do romance entre o casal. Tudo começa num encontro casual, que aos poucos vai crescendo e os reencontros seguintes vão surgindo naturalmente. Fiquei na torcida pelo casal, uma parte de mim sabia que era errado torcer para que a traição ocorresse, mas outra parte afirmava que aquele amor entre eles era grande demais para ser sufocado.
"Desencanto" é uma pérola rara. Um filme sensorial, bonito de se ver, e sentir. Hoje em dia não se faz mais filmes assim. Não há conotação sexual nos diálogos dos personagens, nem em suas atitudes. Mesmo falando sobre traição, o filme é puro, e é isso que torna-o tão belo.
David Lean filmou "Desencanto" em meio aos bombardeios, e o clima depressivo da guerra criou uma obra-prima repleta de melancolia. O cineasta transformou uma situação comum {que pode acontecer com qualquer pessoa} em uma belíssima obra de arte. A maneira como o filme aborda o amor é de uma sensibilidade que raramente assisti.
"Desencanto" é, sem dúvida alguma, o romance mais dolorido que assisti. Um filme magnífico, absolutamente crível e perfeito, que merece ser conhecido por todos.
EMOTIVO; CHARMOSO; PUNGENTE