sábado, junho 08, 2019
Filme: Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946)
Sempre tive curiosidade de assistir "The Best Years of Our Lives", não só pela história narrada que é magnífica, mas também por ser o famoso filme que "roubou" o Oscar de Melhor Filme do clássico natalino "A Felicidade Não se Compra".
Lançado em 1946, um ano após o término da Segunda Guerra Mundial, esse clássico do cineasta William Wyler, foi escrito pelo ex-correspondente de guerra MacKinlay Kantor, sendo publicado inicialmente como um romance e depois adaptado para o cinema pelo roteirista Robert Sherwood.
Ganhou sete estatuetas do Oscar: Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Edição, Melhor Roteiro, Melhor Trilha Sonora de Uma Comédia ou Drama e Melhor Filme, também recebeu indicação nas categoria de Melhor de Melhor Mixagem de Som.
Após o término da Segunda Guerra Mundial três veteranos retornam num mesmo avião à Boone City. São eles: Al Stephenson (Fredric March), que foi sargento do exército; Fred Derry (Dana Andrews), que lutou como capitão da Força Aérea; e Homer Parrish (Harold Russell), que serviu na Marinha de Guerra.
Durante o voo, Homer faz uma revelação sobre como a guerra afetou sua vida para sempre, enquanto Fred e Al conversam sobre seus futuros incertos e a difícil readaptação à vida civil. Ao desembarcarem, Homer é o primeiro a chegar à casa da família. Ele é recebido com grande alegria, sua namorada Wilma Cameron (Cathy O'Donnell) o aguardava ansiosa, mas Homer demonstra indiferença em relação a ela.
Al é recebido por seus dois filhos, Rob (Michael Hall) e Peggy (Teresa Wright), e por sua esposa Milly (Myrna Loy). Enquanto seus familiares demonstram estar felizes com sua chegada, Al sente-se completamente perdido dentro da sua própria casa.
Fred é recebido por seu pai, Pat (Roman Bohnen), e por sua madrasta, Hortense (Gladys George). Em seguida vai até o apartamento onde sua esposa Mary (Virginia Mayo) está residindo. Quando ela o vê fica fascinada, não por ele e sim pelas medalhas. Para piorar a situação, ele passa a ter dificuldades para conseguir um emprego que lhe permita ter uma vida decente. Esse fato desencadeia uma crise entre o casal.
De volta ao trabalho, Al sente a falta do espírito cooperativo que existia no exército e passa a beber diariamente. Homer permanece o tempo todo isolado dos pais e de Wilma. Fred vê a ruína do seu casamento e acaba se apaixonando por Peggy, filha de Al.
"Os Melhores Anos de Nossas Vidas" é um filme edificante, daquelas obras que promovem transformações em nosso íntimo. Certamente saímos dele bem melhores do que entramos. Algumas pessoas dizem que há um certo exagero ao usar 172 minutos para narrar os traumas pós-guerra dos veteranos.
Mas ao meu ver, o filme vai muito além, mostra as dificuldades que as pessoas que vivenciaram um conflito armado sente diante da vida em sociedade, seja a readaptação familiar ou o recomeço da vida profissional. O filme mostra o quanto a guerra afeta o psicológico dos soldados, eles perdem a própria identidade, já não se reconhecem e sente-se deslocados dentro da própria casa.
Muitos sobreviventes voltaram mutilados com pernas ou braços amputados; todos sonhavam em esquecer os horrores da guerra e voltar à vida normal, mas encontraram uma realidade bem diferente. Isso não foi exclusividade da Primeira e Segunda Guerra Mundial, isso continua acontecendo nos dias de hoje.
Visualizamos em "Os Melhores Anos de Nossas Vidas" uma história real, o ator Harold Russell foi um ex-combatente na Segunda Guerra e teve suas mãos amputadas. Ele, que nunca se profissionalizou como ator ganhou duas estatuetas do Oscar pelo mesmo papel: venceu como Melhor Ator Coadjuvante e ganhou um Oscar Honorífico. Os meus aplausos de pé a este ser humano lindo que transmitiu tanta sensibilidade através de seu personagem.
"Os Melhores Anos de Nossas Vidas" é um registro pós-guerra diferente, ao invés das cenas de combates vemos o sofrimento físico e mental, muitas vezes irreversíveis. Todos nós conhecemos um ditado que diz: "depois da tempestade vem a bonança", só que a realidade soa bem diferente. Ser um ex-combatente de guerra não tem nada de bonito ou gratificante. Este filme pode não estar presente na lista dos clássicos maiores clássicos, mas estará vivo na memória de todos que assistirem com sensibilidade.
Duração: 172 minutos
Categorias: Guerra, Romance, Drama, Clássico, Domínio Público
Classificação: 10 anos
ARREBATADOR; REALISTA