Silêncio (2016): um grito silencioso dos mártires - Dicas de Filmes Pela Scheila

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segunda-feira, dezembro 28, 2020

Silêncio (2016): um grito silencioso dos mártires

Dirigido pelo genial Martin Scorsese e baseado no livro do escritor japonês Shûsaku Endô, Silêncio é um filme que faz o espectador mergulhar em águas profundas e tenebrosas sobre a fé, seus desígnios e consequências.

Silêncio
Andrew Garfield e Adam Driver em cena no filme "Silêncio"

Sinopse - Segundo dados históricos, havia mais 100 mil convertidos no ponto alto do trabalho dos missionários. No entanto, o Japão daquela época era fragmentado em xogunatos que foram reunificados na era Sengoku por Toyotomi Hideyoshi, que começou, então, a lidar com o que ele percebia como ameaças externas a seu país. Os jesuítas foram identificados como propagadores do estilo europeu, ocasionando o banimento completo do catolicismo em 1620.

É nesse período tenebroso que inicia a primeira parte do filme. Acompanhamos os jesuítas Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garrpe (Adam Driver), que após receberem notícias do padre Cristóvão Ferreira (Liam Neeson), decidem viajar até o Japão para averiguar os fatos.

Para isso, eles recebem ajuda do japonês Kichijiro (Yôsuke Kubozuka), que encontram em Hong Kong. Chegando no país, os jesuítas vão até um vilarejo secretamente cristão e passam a atuar como padres locais ao mesmo tempo que tentam descobrir detalhes sobre o paradeiro do padre Cristóvão.

A situação é desoladora. Os habitantes do vilarejo são muito pobres e veem nos padres uma gota de esperança. Eles vivem para a fé católica e a mera presença de Rodrigues e Garrpe mudam suas vidas, ainda que eles tenham que manter tudo no mais completo sigilo, com missas exclusivamente, além de precisarem manter os padres escondidos em uma cabana nas montanhas.

A segunda parte do filme é um estudo da personalidade de Rodrigues, percebemos que o padre tem, em sua jornada, uma versão da Via Crucis e dúvidas sobre sua fé e também do próprio Cristo. Sempre buscando fazer o bem e ajudar as pessoas mais próximas, o padre acaba ganhando admiração dos cristãos japoneses e ganha de presente um judas.

Um filme doloroso em todos os aspectos

Silêncio é tão belo quanto doloroso, a fotografia estonteante se mistura as torturas sofridas pelas pessoas que se aventuravam a seguir o cristianismo na terra do budismo. A presença do catolicismo no Japão começou com Francisco Xavier, que foi canonizado, ainda na primeira metade do século XVI.

O filme aborda um tema forte, oferece muitas perguntas e poucas respostas. Nessa história impressionante não há sangue, mas há cenas pesadas sobre sofrimento de pessoas em nome da fé. Enquanto assistimos examinamos os nossos próprios sentimentos sobre a fé e redenção. Não é difícil entender porque várias pessoas não gostaram do filme, afinal, assistir essa obra é um desafio que gera controvérsias.

Tecnicamente o filme é perfeito. Os cenários (localizados na Tailândia) e a fotografia do filme são um espetáculo à parte. Os figurinos também são impecáveis. As atuações são absolutamente brilhantes, destaque para Andrew Garfield e Yôsuke Kubozuka.

É um filme impactante que vai provocar inúmeros questionamentos no espectador, a cena final instiga a um debate interno. No entanto, não é um filme para todos os públicos, é longo (161 minutos) e lento, fato que não agrada o grande público e também causa divergências entre os fãs de Scorsese, alguns gostaram da obra (me incluo) e outros odiaram. Por fim, assistir Silêncio é embarcar em uma história dolorosa sobre fé e intolerância.

"Foi no silêncio que eu ouvi sua voz."

Ficha técnica

Título original: Silence
Duração: 161 minutos
Gênero: Histórico, Drama
Classificação indicativa: 14 anos
País de origem: Estados Unidos da América, Reino Unido, Japão, Taiwan, México
Ano de lançamento: 2016