segunda-feira, janeiro 06, 2020
Filme: Lírio Partido (1919)
Existem filmes que marcaram minha vida por diversos motivos e, existe "Broken Blossoms" que se tornou inesquecível justamente por ser tão tristemente belo.
Acredito que este seja o filme mais poético já produzido pelo cinema, transborda lirismo, doçura, melancolia e sutilezas. Filmado praticamente como uma peça teatral, cada cena se assemelha a um retrato de rara beleza. Jamais esquecerei as cenas que a garota forçava um sorriso com os dedos. Sem dúvida é o sorriso mais triste do cinema.
Obra-prima do cineasta D.W. Griffith que tem em seu currículo filmes polêmicos como "O Nascimento de uma Nação" e "Intolerância". O filme foi baseado no livro Limehouse Nights, de Thomas Burke. O lançamento aconteceu em 1919.
Obra-prima do cineasta D.W. Griffith que tem em seu currículo filmes polêmicos como "O Nascimento de uma Nação" e "Intolerância". O filme foi baseado no livro Limehouse Nights, de Thomas Burke. O lançamento aconteceu em 1919.
O filme conta uma história de amor, mas não é uma história romântica. Conhecemos uma linda garota, que de tão infeliz, só conseguia sorrir forçando os lábios com os dedos. Trata-se de Lucy Burrows (Lilliam Gish), ela tem apenas 15 anos e é rigorosamente castigada por seu pai, Battling Burrows (Donald Crisp), um boxeador violento e complexado.
O destino iria cruzar os caminhos de Lucy com o chinês identificado apenas como O Homem Amarelo (Richard Barthelmess), ele vê marinheiros ocidentais brigando e resolve pregar a paz de Buda na Inglaterra.
Mas só encontra pobreza e vícios. A falta de tolerância dos habitantes do lugar, obrigaram-no a procurar uma ocupação para se sustentar e ter um motivo para permanecer em Londres. Certo dia, esgotada, mal nutrida e vestida como uma mendiga, Lucy desmaia a entrada de uma loja de livros, onde trabalha o chinês, que prontamente ajuda a moça.
Com a entrada de Lucy em sua vida, o rapaz retoma a sua amabilidade ao cuidar dela: trocando seus vestidos velhos por novos e belos vestidos de seda, alimentando-a e curando suas feridas. Logo, um lindo sentimento nasce entre os dois.
"Lírio Partido" é provavelmente o primeiro romance interracial do cinema, ainda que muito tímido. De qualquer forma, a produção gerou polêmica na época de seu lançamento, pois seus temas principais envolvem abuso infantil, amor interracial, uso de drogas, fanatismo e assassinato motivado por vingança. Isso tudo em pleno 1919.
A performance perfeita de Lillian Gish trouxe uma intensa aclamação crítica. Ela expressa intensamente a doçura, a tristeza e o terror de sua personagem Lucy. A cena em que se tranca dentro de um armário para fugir da violência do pai é intensa e impressionante.
O último ato fecha com chave de ouro essa obra-prima. O Homem Amarelo redescobre sua fé e reorganiza seu altar para Buda, enquanto na China, um monge toca os sinos em um mosteiro. O desfecho trágico é também belíssimo. Impossível apagar da memória a cena final.
As cores usadas no filme são bem interessantes. Apesar de ser filmado em preto e branco, as cenas foram tingidas eventualmente, amarelo ou vermelho, criando um efeito interessante em relação aos cenários. Em alguns momentos tudo permanece no P&B padrão.
"Lírio Partido" é uma história simples de amor idealizado, mas interrompido brutalmente, se tornando o filme mais melancólico de todos os tempos. Um verdadeiro diamante lapidado da era silenciosa do cinema.
POÉTICO; PUNGENTE; AVASSALADOR