segunda-feira, julho 25, 2016
Filme: "Gosto de Cereja (1997)"
"Veja a palavra 'suicídio': ela não foi feita para os dicionários. Precisa ter uma aplicação prática."
Desde que assisti "Ta'm e Guilass" estava tentando escrever sobre ele, mas precisava de tempo suficiente para colocar em palavras a grandiosidade desta obra-prima do renomado cineasta iraniano Abbas Kiarostami. Lançado em 1997, este filme franco-iraniano ganhou o Palma de Ouro no Festival de Cannes daquele ano.
Para alguns é um filme pretensioso, para outros é genial, e eu o considero uma das obras mais reflexivas que já assisti na vida. Sou uma pessoa extremamente analista, curiosa também, estou sempre observando as atitudes das outras pessoas, isso pode soar como um defeito ou uma qualidade, dependendo do ponto de vista. A mente humana é algo que me fascina, e enquanto assistia o filme, analisava o comportamento do protagonista suicida. Sempre quis entender o que leva uma pessoa a desejar morrer. Se é algo inevitável, porque querer colocar um fim antes do tempo?! O filme não sanou a minha curiosidade, mas me colocou bem próxima de alguém que desejar tirar a própria vida.
A trama gira em torno do Sr. Badii (Homayoun Ershadi), ele tem aproximadamente 50 anos de idade e seu único desejo é morrer. Ele está determinado a cometer suicídio.
Badii cavou sua própria cova nas montanhas, mas ele precisa de alguém que esteja a fim de enterrá-lo, sem jamais revelar seus motivos, o que joga toda a responsabilidade da decisão em cima da pessoa. É seu último dia de vida, e ele usa as horas, percorrendo os arredores de Teerã na esperança de encontrar alguém confiável para fazer o serviço.
Badii aborda seis pessoas durante sua busca, sempre convidando para dar uma volta de carro. Os dois primeiros logo recusam. O terceiro, um jovem curdo que está servindo ao exército, aceita a carona mas, à medida em que Badii explica o estranho trabalho, o jovem se assusta, e logo foge.
O quarto homem é um vigia afegão de um sítio de obras desativado, este recusa o convite por estar de serviço, mas o amigo, afegão seminarista recém-formado, aceita. No caminho, eles debatem sobre as questões do suicídio. Evidentemente, ele não aceita o trabalho.
Finalmente ele encontra o Sr. Bagheri (Abdolrahman Bagheri), é um velho taxidermista turco que só concorda com o plano porque precisa muito do dinheiro para ajudar o filho doente. Mesmo assim, o taxidermista ainda tenta convencê-lo de diversas maneiras a não cometer o ato.
Os diálogos entre Badii e o taxidermista são bem interessantes. Servem como uma lição de vida a todos nós, principalmente àquelas pessoas que não estão encontrando o sabor da vida. Não quero, nem vou dar lição de moral aqui, mas a vida é feita de pequenos acontecimentos, assim como a história que o Sr. Bagheri relata, antes de cometer um ato insano é preciso sentar na sombra da árvore, olhar a beleza ao redor, comer uma cereja, repensar, comer outras cerejas, ver o por-do-sol, as primeiras estrelas aparecerem, a lua surgir radiante, e perceber que fazemos parte disso tudo.
"Gosto de Cereja" é um filme diferente que nos faz refletir sobre a questão existencial. Não é um filme para todos, a história vai desenrolando lentamente e é preciso bastante paciência para acompanhar a jornada do Sr. Badii. O inesperado desfecho é incrível, confesso que fui pega de surpresa, não esperava aquele final, mesmo assim gostei.
Se você deseja conhecer o Cinema Alternativo, "Gosto de Cereja" é uma ótima oportunidade para sair um pouco da mesmice dos filmes convencionais.
Mais detalhes do filme na página do IMDb
Duração: 95 minutos
Categoria: Drama
Classificação: 12 anos
Minha Nota: 10,0