"Tanto tempo desperdiçado. Tanto tempo perdido. E pensar que existem tantos seres humanos na Terra. Que como eu se sentem solitários."

"Deux Jours, Une Nuit" é um drama sem melodrama e foi uma das melhores surpresas que tive em relação ao indicados para o Oscar. Filme simples, crú e reflexivo. É a natureza humana sendo retratada perfeitamente nesta obra, e surgem diversos questionamentos sobre: a (in)capacidade de sentir empatia pelo próximo; o comportamento das pessoas em abrir mão de um benefício próprio em favor dos outros; o capitalismo roubando virtudes e transformando as pessoas em seres egoístas.

Esse filme belga foi lançado em 2015 e contou com a direção dos irmãos Jean Pierre e Luc Dardenne. Recebeu indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz.

A história se passa na Bélgica, Sandra (Marion Cotillard) acaba de sair de uma depressão profunda e se depara com uma notícia desesperadora, ela irá perder seu emprego.

Influenciados pelo chefe, os colegas de Sandra precisam escolher entre ela continuar no emprego ou eles receberem um abono salarial. Sabendo que muitos dos colegas optaram pelo bônus por receio de perderem seus empregos, Sandra terá apenas um final de semana para conversar com cada colega e tentar convencê-los a mudar seus votos.
A partir desse momento, começa uma verdadeira peregrinação de Sandra atrás dos seus colegas, ela vai ao encontro de cada um deles e fala abertamente sobre a situação. O interessante é que em momento algum, Sandra tenta persuadir ou argumentar a seu favor, apenas explica porque necessita tanto daquele emprego.
Assim como na vida real, Sandra vai se deparar com todos os tipos de reações dos seus colegas, alguns estão arrependidos por terem auxiliado na demissão da moça, outros não querem nem conversa com ela e há ainda aqueles colegas agressivos que partem para a ignorância.
As visitas são breves, poucos diálogos mas complexos, afinal, ajudar Sandra é sinônimo de colocar o próprio emprego em risco. Em cada nova visita surge uma esperança ou aumenta o desespero de Sandra, mas encorajada pelo marido, ela segue atrás dos donos do seu destino.
"Dois Dias, Uma Noite" é um filme humanista que apresenta uma situação cruel e constrangedora, quando Sandra bate de porta em porta, ela se depara com as duas maiores características dos seres humanos, o egoísmo e a empatia. De um lado temos os colegas de Sandra diante de um bônus de mil euros, muitos viram nessa bonificação a chance de se livrar daquelas velhas dívidas, no entanto, para isso teriam que sacrificar o emprego de uma colega. Ajudar o próximo ou pensar no próprio benefício?
Certamente, ao assistir o filme, muitas pessoas vão se identificar com a protagonista. O desfecho não poderia ser mais digno, afinal, Sandra conseguiu ir além daquilo que imaginava e, às vezes, nos desesperamos com o medo de certos acontecimentos, mas quando acontecem, percebemos que que nosso medo era maior que a situação.
Mais detalhes do filme na página do IMDb

Classificação: 12 anos
Nota; 10,0